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Quando Armação Ilimitada estreou em 17 de maio de 1985, o público brasileiro jamais imaginou que boa parte das manobras de surf, saltos de helicóptero e perseguições de buggy eram executadas sem dublês.
Quase quatro décadas depois, entrevistas de elenco e registros do Memória Globo revelam uma rotina de risco que rendeu costelas quebradas, dentes perdidos e um Prêmio Ondas logo no primeiro ano de exibição.
A série que dispensava dublês
Desde o piloto, Kadu Moliterno (Juba) e André de Biase (Lula) insistiam em filmar as cenas radicais por conta própria, prática confirmada anos depois por Evandro Mesquita, convidado especial em 1986: “Não tinha dublê, a gente tomava dois sacos de sangue”, brincou o vocalista da Blitz.
O resultado visual impressionava: câmera única, cortes rápidos à MTV e uso pioneiro de steadycam levaram esportes como surf, asa-delta e motocross ao horário nobre da Globo.
A direção de Armação Ilimitada com Guel Arraes e Dennis Carvalho, sob supervisão de Daniel Filho, abraçou essa estética “videoclipe” e projetou a série como precursora de TV Pirata alguns anos depois.
Acidentes confirmados de Kadu Moliterno
Relatos documentados em 2023 detalham o preço pago pelo realismo:
- Três costelas quebradas durante uma queda livre em piscina cenográfica.
- Dois dentes perdidos numa batida de prancha contra a quilha.
- Atropelamento em cena, que deixou 13 pontos na perna do ator e quase cancelou o seguro de produção.
Mesmo depois desses incidentes, Moliterno manteve a filosofia “eu faço minhas próprias cenas”, algo incomum para a teledramaturgia dos anos 80.
Ficha técnica essencial
- Exibição original de Armação Ilimitada: 17 mai 1985 – 08 dez 1988, Rede Globo (sextas-feiras).
- Episódios / temporadas: 40 episódios distribuídos em 4 temporadas.
- Criadores: Kadu Moliterno, André de Biase, Daniel Filho.
- Direção: Guel Arraes, Dennis Carvalho.
- Roteiristas principais: Euclydes Marinho, Antonio Calmon, Nelson Motta, Patrícya Travassos.
- Elenco fixo: Kadu Moliterno (Juba), André de Biase (Lula), Andréa Beltrão (Zelda Scott), Jonas Torres (Bacana), Francisco Milani (Chefe), Catarina Abdala (Ronalda Cristina).
Prêmio Ondas e consagração internacional
A ousadia foi reconhecida pela Sociedade Espanhola de Radiodifusão: em novembro de 1985, Armação Ilimitada levou o Prêmio Ondas de melhor programa jovem estrangeiro, feito raríssimo para uma produção sul-americana na época.
Trilha sonora de Armação Ilimitada que virou mixtape da década
Rock brasileiro de Legião Urbana, Ultraje a Rigor e Lobão dividia espaço com riffs internacionais de Fastway.
O disco oficial, lançado pela Som Livre em 1988, transformou faixas como “Que País É Este?” em hino informal dos fãs.
- Triângulo amoroso assumido: Zelda, Juba e Lula viviam relacionamento aberto, referência direta a “Jules et Jim” de François Truffaut, algo inédito na TV brasileira.
- Primeiro uso de grafite 3-D na abertura de um seriado da Globo, criado pelo designer Hans Donner para simular letras saltando da tela.
- Participações especiais de Caetano Veloso, Blitz, Lobão e Evandro Mesquita, todos interpretando versões ficcionalizadas de si mesmos.
- Spin-off frustrado: a ideia de um filme para cinema foi discutida em 2018, mas nunca avançou além do roteiro inicial.
Onde assistir hoje
Em 26 de maio de 2025, o Globoplay liberou os 40 episódios restaurados em HD dentro do Projeto Resgate.
Também é possível encontrar seleções no Apple TV (quatro temporadas) e em box DVD lançado em 2007 pela Som Livre.
Carreiras após a onda radical
- Kadu Moliterno brilhou em “Flor do Caribe” (2013) e “Reis” (2022).
- André de Biase tornou-se diretor de clipes e agente de viagens, além de aparições em “Tieta” (1989).
- Andréa Beltrão venceu o Emmy Internacional com “Hebe” (2020) e estrela “Sob Pressão”.
- Jonas Torres, hoje piloto de linha aérea, fez ponta em “Malhação” nos anos 2000.
- Guel Arraes emplacou “O Auto da Compadecida” (2000) e “Lisbela e o Prisioneiro” (2003).
O legado de Armação Ilimitada
As façanhas gravadas sem rede de proteção explicam por que Armação Ilimitada continua referência para séries brasileiras de ação.
A química entre elenco, fotografia estilo videoclipe e trilha pulsante formou um pacote que envelheceu pouco, e permanece inspirador.
Rever hoje essas imagens é testemunhar uma época em que a tecnologia era limitada, mas a criatividade e a coragem eram ilimitadas.
Os depoimentos de Kadu Moliterno confirmam que cada queda, cada ponto no corpo e cada dente perdido foram troféus de um realismo que ainda salta aos olhos.
Assim, Armação Ilimitada não é só lembrança saudosista: é manual vivo para qualquer produção que pretenda misturar humor, juventude e adrenalina sem recorrer a efeitos digitais, provando que a aventura, quando real, atravessa gerações.
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