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Lançado em setembro de 1968 pela ABC, As Aventuras de Gulliver nasceu no exato momento em que a Hanna-Barbera buscava responder ao sucesso de outros seriados matinais, condensando em apenas 17 episódios a ousadia de adaptar Jonathan Swift para o público infantil, e, de quebra, conquistar o mercado internacional que incluía o Brasil nos anos 70.
Inspirado de forma muito livre no romance “As Viagens de Gulliver”, o desenho precisou filtrar a crítica social mordaz de Swift, trocando ironia política por cenas de ação segura para crianças.
Esse ajuste exigiu roteiristas experientes que soubessem equilibrar a atmosfera de aventura marítima com a limitação de sete minutos líquidos por episódio.
O cronograma apertado foi resultado direto da chamada “guerra dos sábados”. Em 1968, ABC, CBS e NBC travavam uma disputa feroz pela audiência infantil, e a emissora do alfabeto não podia perder terreno para sucessos como “Os Flintstones” ou “O Pica-Pau”.
A luz verde veio com a exigência nada modesta de ter o piloto pronto em menos de quatro meses, mobilizando equipes de storyboard em turnos quase contínuos.
Mesmo antes da estreia norte-americana, distribuidores estrangeiros já cobiçavam a série. Representantes da TV Tupi assistiram ao primeiro rolo de animação ainda na fase de pós-produção e fecharam a compra para exibi-la no bloco “Clube do Capitão Aza”.
Esse interesse precoce ajudou a financiar a colorização completa dos acetatos, já que o Brasil, um dos primeiros países da América Latina a transmitir em cores, exigia material pronto para o novo padrão.
A gênese de um clássico da Hanna-Barbera
Enquanto Joe Barbera negociava novos horários com a ABC, William Hanna supervisionava equipes de storyboard que, por falta de tempo, desenhavam esboços diretamente sobre folhas de rascunho de “Os Banana Splits”.
Cada roteiro precisava caber em sete minutos de animação “limitada”, reduzindo quadros, mas mantendo a ação fluida com truques de câmera e trilhas sonoras reutilizadas do estúdio
Storyboard, cels e prazos apertados
Os animadores Cliff Nordberg e Alex Lovy recebiam pilhas de acetatos para pintar à mão em menos de 48 h, enquanto o diretor musical Ted Nichols remixava efeitos já famosos em “Os Herculoides” e “Space Ghost”.
Para o protagonista Gary Gulliver, Barbera convocou o versátil Jerry Dexter, que já gravara “Shazzan” no ano anterior.
Do ABC ao Brasil: jornadas de exibição
A série estreou nos EUA em 14 de setembro de 1968, ficando no ar até 4 de janeiro de 1969 dentro do bloco “The Banana Splits Adventure Hour”.
No Brasil, chegou no início dos anos 70 pela TV Tupi, reapareceu na TVS (atual SBT) e na Bandeirantes nos anos 80, e voltou em 2002 – 2004 no “TV Globinho” da Globo, garantindo novas gerações de fãs.
Personagens, vozes e talentos por trás
Além de Dexter, o elenco original contou com Don Messick (Egger/Glum) e John Stephenson (Captain Leech e Rei Pomp).
Na dublagem paulista da Cinecastro, Luís Manuel deu voz a Gary, Milton Rangel virou o Rei, e Ribeiro Santos eternizou o vilão Leech, todos reconhecíveis para quem cresceu ouvindo os estúdios da Rua Pedro soares de Camargo em São Paulo.
Curiosidades e legado duradouro
- O desenho fazia parte de uma “trilogia literária” do estúdio ao lado de “Os Três Mosqueteiros” e “As Novas Aventuras de Huckleberry Finn”.
- Alguns acetatos originais foram reciclados em “Scooby-Doo”, tornando Gary parecido com Fred Jones em determinados quadros.
- Em 2021, Flirtacia reapareceu em “Jellystone!” no HBO Max, mostrando o poder de longevidade dos personagens.
Onde assistir hoje e preservar a memória
Não há streaming oficial no Brasil, mas todos os 17 episódios circulam completos em boa definição no Internet Archive, além de aberturas restauradas em canais nostálgicos do YouTube.
Fãs colecionadores recorrem a DVDs norte-americanos de domínio público, que trazem a dublagem original em inglês.
Por que “As Aventuras de Gulliver” continua fascinando?
A animação prova que, mesmo com orçamento reduzido, é possível adaptar um clássico literário sem perder o senso de aventura.
O carisma de Gary e Tagg, aliados ao contraste com os diminutos habitantes de Lilliput, cria um universo que permanece vivo na memória afetiva de quem acompanhou os desenhos matinais na TV aberta.
Mais do que nostalgia, o seriado demonstra a engenhosidade técnica da Hanna-Barbera ao transformar limitações em estilo, influenciando produções que viriam na década seguinte, como “Josie e as Gatinhas” e “Capitão Caverna”.
Por fim, As Aventuras de Gulliver lembra que boas histórias se renovam: basta um mapa, um cachorro fiel e muita imaginação para navegar, de novo e sempre, entre gigantes e minúsculos heróis.
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