Quando A Feiticeira e os Beatles colidiram na cultura pop dos anos 60

A Feiticeira
Imagem gerada por IA para fins ilustrativos

A década de 1960 foi palco de dois fenômenos simultâneos: a explosão dos Beatles e a estreia de A feiticeira, sitcom que levou magia suburbana a milhões de lares.

Enquanto o quarteto britânico sacudia a música, Samantha Stephens torcia o nariz na ABC, e logo as duas sensações se cruzariam em tela, espelhando a Beatlemania que tomava conta do planeta.

Vídeo: Canal VideosThiagoMoraes

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Beatlemania bate à porta de Morning Glory Circle

Em 9 de fevereiro de 1964, 73 milhões de norte-americanos viram os Beatles no Ed Sullivan Show, marco inicial da invasão britânica na TV dos EUA.

A resposta de Hollywood foi imediata: penteados “moptop”, gírias de Liverpool e referências ao grupo inundaram séries e comerciais.

A Feiticeira, então na pré-produção, incorporou rapidamente esses símbolos para mostrar que, mesmo em um lar de bruxas, ninguém escapava do “yeah-yeah-yeah”.

O episódio que pôs um “corte Beatle” em Darrin

A melhor prova desse encontro está em “The Joker Is a Card” (2×05), exibido em 14 de outubro de 1965. Na trama, Endora revolta-se com as risadas de Darrin e, num passe de mágica, troca seu tradicional cabelo curto por um volumoso topete à la Ringo Starr, “Agora sim, Ringo, ria à vontade!”, provoca a sogra.

A piada funcionou duplamente: satirizava o clima “anti-mortal” de Endora e, de quebra, fazia merchandising cultural dos rapazes de Liverpool, mostrando que até os Stephens precisavam lidar com o modismo que dominava ruas, rádios e… salões de beleza.

Por que a referência foi tão importante

Em 1965, A Feiticeira era líder de audiência e os Beatles tinham cinco músicas no Top 5 da Billboard. A piada visual de Endora ajudou a legitimar o programa como cronista da cultura pop ao vivo: se Samantha vivia presa ao dilema “magia × normalidade”, a turma de John Lennon lutava para ser levada a sério além de ídolos juvenis. O espelho estava lançado: duas “tribos” aparentemente distintas dividiam manchetes, e fãs.

Da telinha à TV brasileira: quando o feitiço chegou aqui

Nos Estados Unidos, a série estreou em 17 de setembro de 1964 e permaneceu até 25 de março de 1972, totalizando oito temporadas e 254 episódios.

No Brasil, A feiticeira aportou cedo: a TV Paulista começou a exibi-la em 1965; depois vieram Excelsior, Tupi e, nos anos 1970, Globo, que embaralhou a ordem dos capítulos, fazendo com que algumas referências à Beatlemania aparecessem fora de contexto cronológico.

Elenco, direção e ficha técnica essencial

  • Criador: Sol Saks
  • Direção predominante: William Asher, também responsável por episódios de I Love Lucy e pelos filmes “praia” da American International.
  • Elenco fixo nos anos Beatles:
    • Elizabeth Montgomery (Samantha/Serena) — depois estrelou Lizzie Borden (1975) e o telefilme Mrs. Sundance (1974).
    • Dick York (Darrin #1, 1964-1969) — visto em O Vento Será Tua Herança (1960).
    • Agnes Moorehead (Endora) — indicada ao Oscar por Cidadão Kane (1941) e Soberba (1942).
    • Dick Sargent (Darrin #2, 1969-1972) — atuou em Um é Pouco, Dois é Bom e Três é Demais e no filme Anáguas a bordo (1959).
    • David White (Larry Tate), presença constante na comédia televisiva da época.

A sitcom recebeu quatro indicações ao Emmy nos anos 1960, um período em que os Beatles colecionaram Grammys, evidenciando como música e TV se impulsionavam mutuamente.

Curiosidades que amarram bruxas e Beatlemania

  • O roteiro original citava apenas “um cabelo de roqueiro moderno”, mas o departamento de figurinos solicitou perucas específicas inspiradas em fotos de Paul McCartney divulgadas pela revista Life.
  • Elizabeth Montgomery declarou, em entrevista de 1966 à TV Guide, que “adorava” os Beatles e que Tabitha “provavelmente seria fã deles”.
  • As primeiras dublagens brasileiras trocaram “Beatles” por “Os Incríveis”, banda iê-iê-iê local, para adaptar a piada ao público infantil que já conhecia a música “Era um Garoto…”.
  • William Asher revelou em 1993 que tentou convidar Ringo Starr para um cameo, mas a agenda do baterista estava “impossível”.

Onde assistir hoje

Em 2025, os episódios completos estão disponíveis gratuitamente, com anúncios, no Pluto TV Brasil e fazem parte do catálogo Oldflix para assinantes. Lá fora, as oito temporadas podem ser compradas na Apple TV e na Amazon Prime Video.

Outros trabalhos do elenco e da equipe

  • Montgomery produziu e estrelou telefilmes de suspense nos anos 70;
  • York, debilitado por problemas na coluna, voltou em papéis menores antes de se aposentar.
  • Moorehead ganhou o Globo de Ouro por Com a Maldade na Alma (1964).
  • Já William Asher dirigiria The Paul Lynde Halloween Special (1976), que trazia… músicas dos Beatles em versão disco, fechando o círculo pop.

A magia duradoura de A feiticeira

A feiticeira provou que uma boa sitcom não vive em torre de marfim: ao vestir Darrin com um corte “Beatle”, a série cravou no roteiro a efervescência daquele 1965. O feitiço foi certeiro porque capturou, em poucos segundos, o espírito de uma década que descobria novos sons, cores e costumes.

Mais de meio século depois, o episódio continua encantador por mostrar que tendências vêm e vão, mas bom humor permanece. A mistura de bruxaria doméstica com a rebeldia roqueira dos Beatles reforça como a televisão sempre funcionou como espelho imediato da cultura pop.

Por isso, quando revisitamos o riso de Samantha diante do novo visual do marido, lembramos que, assim como a Beatlemania, A feiticeira segue indomável: basta um torcer de nariz, ou um acorde de guitarra, para o encanto recomeçar.

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Foto de Augusto Tavares

Augusto Tavares

Me chamo Augusto Tavares, sou formado em Marketing e apaixonado pelo universo dos programas de TV que marcaram época. Como autor trago minha experiência em estratégia de comunicação e criação de conteúdo para escrever artigos que reúnem nostalgia e informação. Meu objetivo é despertar memórias afetivas nos leitores, mostrando como a era de ouro da televisão ainda influencia tendências e comportamentos nos dias de hoje.

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