Ruas de Fogo, dirigido por Walter Hill em 1984, parecia “apenas” misturar faroeste, musical e videoclip, mas o embate entre o mercenário Tom Cody (Michael Paré) e o motoqueiro Raven Shaddock (Willem Dafoe) tornou-se uma aula de construção de anti-heróis e rende assunto até hoje.
Ruas de Fogo: um faroeste urbano à prova de décadas
Lançado nos EUA em 1º de junho de 1984 e nos cinemas brasileiros em 14 de setembro do mesmo ano, o filme chegou com fôlego de blockbuster: orçamento estimado em US$ 14 mi, trilha produzida por Jim Steinman e fotografia neon que antecipou o videoclipe moderno.
Tom Cody retorna ao bairro natal quando a cantora Ellen Aim (Diane Lane), ex-namorada e agora estrela pop, é sequestrada pelos Bombers, gangue chefiada por Raven. Ao lado da ex-soldada McCoy (Amy Madigan) e do empresário Billy Fish (Rick Moranis), Cody invade o quartel-general rival para libertar Ellen.
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O roteiro, escrito por Hill e Larry Gross, assume ritmo de fábula rock’n’roll: cidades sem nome, trens elevados, carros dos 50 misturados a jaquetas de couro dos 80, tudo planejado para parecer “fora do tempo”.
Elenco que virou vitrine de talentos
- Michael Paré (Tom Cody) já viera do cult “Eddie and the Cruisers” e depois migraria para séries como “O Vidente”.
- Diane Lane (Ellen Aim) ganharia prestígio em “Infidelidade” e no universo DC (“Homem de Aço”).
- Willem Dafoe (Raven) explodiu dois anos depois em “Platoon” e construiu carreira oscilando entre vilões (“Duende Verde”) e arte (“O Farol”).
- Rick Moranis (“Querida, Encolhi as Crianças”), Amy Madigan (“Campo dos Sonhos”) e Bill Paxton (“Aliens”) completam o time que hoje soa como lista de indicações ao Oscar.
Bastidores de uma fábula neon
A produção ergueu um quarteirão inteiro em estúdio, com linha de metrô suspensa que custou US$ 2,5 mi. As cenas de chuva foram filmadas a 1h da manhã durante 2 semanas para evitar reflexos indesejados; Dafoe sofreu hipotermia leve, mas a imagem dele encharcado só reforçou o mito do vilão.
A equipe ainda contratou a banda The Blasters para tocar ao vivo em cena (algo incomum à época) e deu crédito a Dan Hartman pelo hit “I Can Dream About You”, nº 6 na Billboard.
Trilha sonora que explodiu no rádio
Walter Hill planejava iniciar uma trilogia sobre Tom Cody, a bilheteria de apenas US$ 8,1 mi frustrou a ideia, mas não impediu o filme de se tornar cult nas locadoras e, no Brasil, na “Sessão da Tarde” da Globo.
Jim Steinman, gênio por trás de Meat Loaf, compôs “Nowhere Fast” e “Tonight Is What It Means to Be Young”, canções que soam como mini-óperas de 6 min.
O disco chegou ao 32.º lugar da Billboard 200 e ganhou relançamento em vinil colorido em 2024, provando que a nostalgia ainda vende.
Exibições no Brasil e impacto cultural
A dublagem abrasileirada popularizou bordões (“Tom Cody, o problema deles é comigo”) e fez dos Bombers ícones para bandas de rockabilly nacionais.
Na TV, “Ruas de Fogo” figurou pelo menos quatro vezes na “Sessão da Tarde” nos anos 90 e início dos 2000, sempre com boa audiência, segundo registros de grade da própria Globo.
Onde assistir hoje
Não há streaming por assinatura no momento, mas o longa pode ser alugado ou comprado em HD na Apple TV e Amazon Prime Video; Claro video oferece locação avulsa. Se sua coleção física clama por neon, há Blu-ray importado de 35.º aniversário com making-of de 75 min.
Outros trabalhos do elenco e direção
Walter Hill já mostrara afinidade com anti-heróis em “Warriors” (1979) e consolidou esse DNA em “Ruas de Fogo”.
Michael Paré repetiria o arquétipo do “herói relutante” em “Streets of Fire: Resurrection” (curta de fã, 2017), enquanto Dafoe saltaria dos becos para os templos de “A Última Tentação de Cristo”. O ecletismo do grupo explica por que o filme ainda ganha retrospectivas em festivais cult.
Curiosidades escondidas nos créditos
- A jaqueta de couro de Tom Cody foi desenhada para parecer impermeável, mas absorvia chuva como esponja: cada tomada exigia secagem de 30 min.
- Raven originalmente usaria um corte moicano; Hill optou pelo topete lambido para evocar Marlon Brando em “O Selvagem”.
- A trilogia cancelada teria levado Cody a Tóquio (filme 2) e Berlim (filme 3); parte desse enredo vazou no quadrinho “Streets of Fire: The Series” (1985).
- “I Can Dream About You” não é cantada por Dan Hartman no filme: o vocal de palco é de Winston Ford, escolha feita por direitos autorais.
Por que Ruas de Fogo ainda incendeia corações
Embora subestimado na estreia, o filme encontrou público entre fãs de rock, actioners dos 80 e colecionadores de VHS. Hoje ele é estudo de caso em faculdades de cinema para mostrar como estilo pode se sobrepor a gênero.
Raven Shaddock tornou-se modelo de vilania teatral: impermeável à dor, maquiado sob a chuva, ele canta “Nowhere Fast” sem mover um músculo, comparações com “Mad Max” são inevitáveis, mas Hill entregou algo mais próximo de um musical de rua.
E Tom Cody, com frases lacônicas e moral flexível, abriu caminho para anti-heróis como Snake Plissken, John Wick e até o recente Driver de “Drive”: homens deslocados que resolvem tudo na marra e somem na neblina antes dos créditos.
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