Quando estreou em 1983 na Record Rio, o Programa Realce não parecia mais que um projeto independente capitaneado pelos surfistas-jornalistas Ricardo Bocão e Antônio Ricardo.
Poucos imaginavam que aquele “pocket show” de esportes radicais, videoclipes e comportamento juvenil se transformaria num divisor de águas da TV brasileira, abrindo espaço para o lifestyle de praia, para o skate e para o rock que despontava nos bares de Brasília e Ipanema.
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Dos fanzines ao primeiro take na TV
A semente do programa germinou quatro anos antes, com a revista Realce (1979), feita em xerox e vendida nas praias cariocas. O sucesso das matérias sobre surf e música motivou os autores a levar o conceito para a televisão.
Em 23 de abril de 1983, Realce ganhou tela própria aos sábados, 19 h, na Record Rio; logo depois, passou a ser retransmitido pela TV Gazeta, canal 11 de São Paulo, às 16 h, mantendo o formato semanal de 30 minutos.
Os oito anos ininterruptos (1983-1990) renderam, segundo arquivos dos próprios criadores, mais de 500 edições, número incomum para atrações independentes da época. Cada temporada correspondia a um ano letivo, totalizando 8 temporadas produzidas e exibidas integralmente no Brasil.
Formato inovador e quadros inesquecíveis
Realce misturava reportagens externas filmadas em Super 8 ou Betacam (aventura no arpoador, campeonatos de half-pipe, voo livre na Pedra Bonita) com entrevistas em estúdio.
Quadros célebres incluíam “Clip Realce”, responsável por exibir videoclipes antes mesmo da chegada da MTV, e “Surf Report”, boletim com análise de ondulação e marés.
O tema de abertura, “Girl Afraid”, dos Smiths, reforçava o clima alternativo, enquanto a identidade visual usava grafismos neon típicos da New Wave.
Elenco, direção e bastidores que valem replay
- Apresentadores principais : Ricardo Bocão e Antônio Ricardo (concepção, direção e roteiros).
- Co-apresentação : Patrícia Barros (1983-85) e Beto Rivera (1987-90).
- Direção de imagens : Paulo Macedo.
- Produção musical : Léo Gandelman, responsável por escolher trilhas importadas de new-wave.
A dupla Bocão-Ricardo levou ao ar as primeiras aparições televisivas de Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Kid Abelha, Titãs e Raimundos.
Nos bastidores, o orçamento micro obrigava a equipe a gravar em praias e pistas públicas, editando a madrugada inteira em ilhas lineares da Record.
A parceria renderia novos formatos, como “Vibração” (1984-91), “Ombak” (MTV, 1991) e, anos depois, o canal pago Woohoo (2006), especializado em esportes de ação.
Trilha sonora que lançou clássicos do rock nacional
Entre um drop e outro, Realce inseria videoclipes enviados pelos próprios músicos em VHS. Foi ali que o público viu, pela primeira vez, “Vital e Sua Moto” (Paralamas), “Será” (Legião Urbana) e “Fixação” (Kid Abelha).
Muitos artistas relatam ter recebido o primeiro convite de gravadora após a exibição no programa. Além dos brasileiros, o set list circulava por The Smiths, INXS e Midnight Oil, raridade numa TV que ainda engatinhava na transmissão de clipes.
Onde assistir hoje e legado além da telinha
O acervo integral nunca foi lançado em home-video, mas dezenas de episódios convertidos de U-Matic estão disponíveis em playlists abertas no YouTube, com qualidade SD razoável, basta buscar “Programa Realce 1983-1990”.
Alguns trechos restaurados também aparecem em documentários exibidos pelo canal Woohoo e em palestras de Bocão sobre a história do surf brasileiro.
Realce influenciou a estética de programas posteriores como “Clip Trip” (Gazeta) e “Furia Metal” (MTV), além de impulsionar a cultura do skate vertical no país.
A própria Confederação Brasileira de Skate credita à atração o boom de pistas bowl construídas no fim dos anos 80.
Por que o Programa Realce ainda reverbera
Nos dias de hoje, a TV aberta segue repleta de reality shows de surf e campeonatos de skate, mas poucos lembram que o auge dessa onda começou com o Programa Realce.
A experiência independente comandada por Bocão e Antônio Ricardo provou que conteúdo jovem podia conquistar audiência sem depender do mainstream.
A mistura de imagens radicais, rock alternativo e linguagem coloquial abriu caminho para a MTV Brasil e para toda a programação de esportes de ação que conhecemos.
Quase quatro décadas depois, rever episódios no YouTube continua inspirando novas gerações a pegar a prancha, montar o shape ou simplesmente descobrir bandas que mudaram o rock nacional.
O legado do Programa Realce permanece vivo, vibrante como o som das ondas quebrando na tela.
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