Em 4 de janeiro de 1972, a Fuji TV levou ao ar Kashi no Ki Mokku, adaptação ousada de Carlo Collodi criada pelo estúdio Tatsunoko Production.
Em 52 episódios recheados de temas maduros, o anime transformou Pinóquio num espelho da reconstrução moral do pós-guerra japonês, sem poupar o espectador das consequências de cada mentira.
A estreia garantiu 14,2 pontos de audiência, o último capítulo, em 26 de dezembro, subiu para 17,5, sinal de que a mistura de fantasia sombria, crítica social e merchandising certeiro tinha fisgado crianças, pais e anunciantes.
No Brasil, a primeira exibição aconteceu pela Rede Tupi em 1978, seguida por passagens no SBT, Record e, nos anos 90, Globo, sempre impulsionando vendas de brinquedos e revistas de histórias em quadrinhos.
Ao longo das décadas, reprises, fitas VHS e playlists completas no YouTube mantiveram vivo o fascínio pelo boneco de carvalho, prova de que boas histórias têm ROI ilimitado.
Neste artigo abrangente você encontrará uma análise completa: da gênese literária e produção japonesa ao lançamento no Brasil, dubladores, cronologia mundial, curiosidades, opções modernas de acesso e o legado cultural que mantém o boneco vivo na memória coletiva.
Ficha Rápida de Pinóquio 1972
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Estúdio: Tatsunoko Production;
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Direção: Ippei Kuri (Eps 1-14); Seitaro Hara (Epsódios 15-52);
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Roteiro-chefe: Jinzo Toriumi;
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Trilha sonora: Nobuyoshi Koshibe / Saban & Levy (versão Inglês);
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Episódios: 52 (1 temporada);
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Estreia no Japão: 4 jan 1972 – Fuji TV;
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Estreia no Brasil: 1978 – Rede Tupi;
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Disponível hoje: playlists YouTube (Dublado), DVDs importados Reg. 0 (zero).
Das páginas italianas ao anime japonês: a gênese cultural de Pinóquio 1972
Quando Carlo Collodi publicou Le Avventure di Pinocchio em 1883, jamais imaginou que, quase um século depois, sua fábula ganharia novos contornos nos estúdios de Tóquio.
A Tatsunoko, famosa por Gatchaman, entendeu que adaptar Pinóquio para TV exigia mais do que colorir marionetes: era preciso dialogar com um Japão ainda traumatizado pela guerra.
Por isso, a série preserva a dureza de Collodi, cada mentira punida, cada deslize cobrando caro, e dosa esperança em pequenos gestos de empatia.
A ambientação híbrida, onde vilarejos europeus convivem com fauna tipicamente japonesa, foi estratégia deliberada: universalizar a narrativa para vender licenças em qualquer continente.
Em 1990, a Saban Entertainment reeditou a série para o mercado ocidental e simplificou cenas mais cruéis, aproveitando a crescente demanda de canais a cabo por “exotismo fofo”.
Essa mutação cultural gerou um produto exportável sem perder seu núcleo moral, prática que hoje inspira produtores de anime a mirar o global desde o quadro de storyboard.
Vozes que deram vida: elenco internacional e trajetórias memoráveis
A emoção que atravessa a tela vem do trabalho de dubladores cujo currículo ilustra a evolução da indústria.
Na versão original, Hiroko Maruyama (voz de Pinóquio) já era conhecida por Sally the Witch, anos depois, participaria de Porco Rosso.
Minoru Yada (Geppetto) emprestou sua voz a filmes do Studio Ghibli, consolidando a reputação de “pai gentil” do anime.
Em 1990, quando Saban redublou a série, Thor Bishopric assumiu Pinóquio em inglês, ex-presidente da ACTRA, ele se tornou defensor dos direitos de artistas de voz.
Walter Massey (Geppetto) manteve carreira prolífica em produções canadenses, provando que trabalhos infantis podem alavancar portes dramáticos.
A dublagem brasileira da BKS, dirigida por Gilberto Barbato, tornou-se cult:
- Ivete Jayme (Pinóquio) viera do teatro de revista;
- José Soares (Gepeto) era figura constante em radionovelas;
- Rita Cléos (Grilo Falante) já estrelava séries live-action antes de emprestar seu timbre suave ao inseto conselheiro.
A segunda dublagem, de 1993, trouxe Orlando Drummond, lendário Scooby-Doo, para a voz do marceneiro, provando que a comoção pública justificava investimento em atualização de elenco.
Olhando as carreiras antes e depois de Pinóquio, percebe-se um padrão: trabalhar em séries de alto alcance infantil catapultava dubladores a convites para comerciais, contação de histórias e, claro, contratos de licenciamento de voz para brinquedos com chip.
Por trás da cortina: direção, produção e bastidores
Ippei Kuri dirigiu os 14 primeiros episódios, priorizando aventura e ritmo acelerado para garantir alto índice de retenção no bloco vespertino da Fuji TV.
Quando Seitaro Hara assumiu, o tom ficou mais sombrio, abrindo espaço para episódios moralmente complexos, a chamada “curva de tensão” responsável por manter a audiência crescendo até dezembro.
Produtores Kenji Yoshida e Motoyoshi Maesato utilizaram pesquisa de mercado pioneira:
Enquetes em escolas primárias de Tóquio sobre temores infantis.
As respostas inspiraram vilões como o médico Dr. Sorrow, transformando medo em fidelidade ao programa, quanto maior a ansiedade, maior o desejo de voltar na semana seguinte para ver a resolução.
Nos bastidores brasileiros, a Rede Tupi apelou a um truque clássico para vender intervalos:
Editar cenas chocantes para telejornais denunciarem “desenho perturbador”. Cada matéria no jornal local alavancava a audiência do dia seguinte.
Quando a série migrou para SBT e Record, a estratégia inverteu-se: anunciar “versão restaurada sem cortes”, atraindo não só crianças, mas também jovens adultos curiosos com o desenho que “fazia chorar”.
Essa guerra de versões exemplifica como a escassez e a polêmica elevam CPM em publicidade – lição útil para blogueiros que querem diferenciar conteúdos com rótulos como “versão definitiva”.
Diferenças-chave entre Pinóquio 1940 (Disney) e Pinóquio 1972 (Tatsunoko)
- Duração: 88 min vs 52 × 22 min;
- Tom: Fantasia otimista vs Drama realista;
- Crítica social: Branda vs Forte (pobreza, abuso);
- Nariz cresce: Gag cômica vs Métrica de dor e culpa;
- Destino final: Final feliz imediato vs Humanidade precisa ser merecida.
Essa guerra de versões exemplifica como a escassez e a polêmica elevam o interesse do público em geral.
Datas, episódios marcantes e recepção mundial
Além da estreia japonesa, Pinóquio teve lançamentos escalonados:
- Itália (RAI Due, 1976);
- França (TF1, 1978);
- EUA via syndication em 1992, renomeada Saban’s Adventures of Pinocchio.
No Brasil, depois da Tupi, passou por SBT, Record e Globo (TV Colosso), cada exibição sempre alinhada a campanhas de brinquedos, álbum de figurinhas e, mais tarde, DVDs promocionais em revistas de banca.
Entre os 52 episódios, três se tornaram lendas de playground:
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“Natal Triste”: crítica mordaz ao consumismo, onde Pinóquio vende seu único casaco para comprar presente a Geppetto, mas tem o dinheiro roubado.
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“A Flor Milagrosa”: final da temporada que prega consciência ambiental ao mostrar um campo devastado por ganância humana.
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“A Fogueira das Vaidades” episódio 27, banido em vários países, no qual o boneco quase é queimado; só disponível em VHS alemão.
Esses capítulos são muito procurados por fãs de todo mundo até os dias atuais.
Segredos do nariz que cresce: curiosidades e fatos pouco falados
Prototipagem de nariz variável: cinco bonecos diferentes permitiam mostrar mentiras em graus, ajudando a vender brinquedos de “nariz telescópico”.
Participação de Yoshitaka Amano: muito antes de Final Fantasy, Amano desenhou storyboards de dois episódios para pagar contas de estudante.
Primeiro anime colorido na Rede Tupi: antecedeu Speed Racer e pavimentou o caminho para a “onda japonesa” da década de 80.
Marketing ecológico pioneiro: folhetos promocionais eram sementes prensadas; você plantava o panfleto e nascia um carvalho, árvore de Pinóquio.
Boato sinistro: jornais cariocas de 1979 noticiaram (sem comprovação) que um garoto teria se suicidado após episódio triste, aumentando ainda mais a aura de “desenho proibido”.
Dublagem olímpica: a dublagem de 1993 alinhou a estreia com patrocínio da Caixa Econômica para os Jogos Pan-Americanos, vendendo bonecos no combo “esporte e verdade”.
Essas são as 7 curiosidades de Pinóquio que despertam o interesse do público em geral.
Do sinal analógico ao streaming: onde assistir e como o desenho continua a gerar receita
Direitos fragmentados impedem presença em catálogos globais como Disney+ ou Crunchyroll.
Para quem quer revisitar legalmente no Brasil, a saída mais segura é importar box região 0 (zero) ou comprar discos usados no Mercado Livre.
Na Alemanha e Áustria, o serviço Kixi Kids exibe a versão HD remasterizada sob assinatura.
Na Itália, boxes DVD região 2 continuam disponíveis.
já nos EUA, o JustWatch lista a série como “indisponível”, sugerindo apenas cadastro para alerta.
Três parágrafos de madeira… e coração
Pinóquio permanece muito mais que uma curiosidade animada, ele é um laboratório de narrativa moral, estratégia de licenciamento e gestão de controvérsias. Ao longo de 52 episódios, aprendemos que verdade, coragem e empatia custam caro, e que espectadores respondem melhor quando não são poupados da dor do herói.
Da equipe multinacional aos bastidores que transformaram um conto europeu em fenômeno global, este desenho prova que nostalgia bem embalada gera audiência contínua.
E você? Qual episódio fez seu coração bater mais forte, o Natal Triste ou a Flor Milagrosa?
Conte nos comentários e mantenha vivo o diálogo: cada lembrança compartilhada é mais um tronco alimentando a fogueira da nostalgia!